quinta-feira, 28 de maio de 2015

domingo, 24 de maio de 2015

Eucanaã Ferraz, Poeta Do Rio De Janeiro * Antonio Cabral Filho - Rj

Eucanaã Ferraz - Rj
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http://eucanaaferraz.com.br/ 
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Eucanaã Ferraz, poeta do Rio de Janeiro,
é o nosso presente de hoje. Espero conseguir fazer isso: a cada dois ou três poetas falecidos, incluirei um poeta vivo. Outro coisa que vou avisar: não darei pitaco sobre ninguém, pois meu objetivo é deixar o leitor entrar em contato com o autor, sem sofrer interferências. Estamos certos? Boa leitura !!
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sábado, 23 de maio de 2015

Cântico Negro - José Régio - Portugal

JOSE REGIO, 


Poeta Portugues, autor de um dos poemas

 mais lindos que eu conheço, Cântico Negro.

 Leiam-no:


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí.


*
SAIBAM MAIS....

http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=335 
X
http://cvc.instituto-camoes.pt/espelhamentos/11/11.html 
X
http://www.jornaldepoesia.jor.br/ag56regio.htm 
X
http://www.antoniomiranda.com.br/iberoamerica/portugal/jose_regio.html 
X
JOSE REGIO 
recitando em video
https://www.youtube.com/watch?v=TBCd0vuxbFo 
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sexta-feira, 22 de maio de 2015

6 Sonetos De Walter Benjamin * Antonio Cabral Filho - Rj

6 SONETOS

WALTER BENJAMIN

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-ALGO SOBRE-

http://www.circulobellasartes.com/benjamin/termino.php?id=199

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Sinopse Biográfica




*

Walter Benjamin escreveu um ciclo de 73 sonetos  entre 1915 e 1925, isto é, entre os seus 23 e 33 anos. Os poemas são dedicados ao seu amigo Friedrich C. Heinle, um poeta de 19 anos, e à companheira deste, Rika Seligson, que se tinha suicidado em 1914, pouco depois de começar a primeira guerra mundial, (...)

Os textos foram descobertos na Bibliothèque Nationale de Paris, em 1981, com outros manuscritos que Benjamin confiara a George Bataille, em 1940, pouco antes de, por sua vez, se suicidar, e que ali tinham sido depositados, (...)

Nesta sequência sobre a morte, em grande parte escrita durante os anos da guerra, depara-se-nos como uma rejeição da violência, levando à integração da morte no ato poético, “como normalidade”, (...)

O patético desta obra não está apenas em o autor não ter chegado a revê-la e a organizá-la definitivamente, por ventura reduzindo-a em extensão e aumentando-lhe desse modo a eficácia estética, pois há toda uma série de sonetos muito belos. Está também em ela ter ficado por mais de 60 anos sem ser conhecida, e portanto sem ter podido gerar qualquer espécie de influência ou discussão na produção literária do seu tempo. É nesse sentido que lhe chamo opus in absentia e para ela procurei,mais do que as traduções, as “aproximações que se seguem” Vasco Graça Moura.

*

TIRA-ME AO TEMPO A QUE ESCAPASTE BRUSCO




Tira-me ao tempo a que escapaste brusco
Dá-me de dentro o que teu perto estende
Como a rosa vermelha ao lusco-fusco
Da frouxa ordem das cousas se desprende

Vera afeição e amarga voz ausência
Que sinto calmo e do rubro da boca
Crestada pela rubra incandescência
Com que o cabelo em sombra púrpura toca

A fronte aflita. E a imagem far-me-á falta
De cólera e louvor que me oferecias
No pisar nobre em que levavas a alta

Bandeira cujo signo me anuncias
Só porque em mim pões teu nome bendito
Sem imagens qual Amen aflito

 *

COMO O CORAL ALASTRA A SUA MORTE




Como o coral alastra a sua morte
A arder em árvore púrpura no seio
Do mar com a temente alma no seio
Dos braços rubros presa do mais forte

Com beijo amargo de ruína veio
A ameaça. Ela faz voto de sorte
Que acre tormento a tal mando suporte
E é-lhe paga final receio

Medida no festim desesperado
Na turvação lembra a doçura amena
Bebe o Lethes do tempo perturbado

Qual dando eternidade em mão serena
Dota a alma e a herança distribui
O ser simples de quem recusa flui.

*


COMO É QUE A SOLIDÃO HEI-DE IR MEDINDO?




Como é que a solidão hei-de ir medindo?
Desse-me os golpes de uso inda esta dor
Um a um sua nudez a sobrepor
Que o ritmo sem nome a foi vestindo

Mas sofro agora o tempo nu saindo
Numa levada sem nenhum teor
Gasto caudal do meu rio interior
Nem chora o peito por mais gritos vindo

Quando é que é novo ano na amargura
Quando volto a chegar-me à desventura
Que me faz falta em ocos dias vis.

Ah quando é que arde escura em cores febris
À testa do ano como a vi na altura
Do agosto em chamas funda cicatriz?

*



SE AO MUNDO PREDISSESSES TEU MORRER




Na morte a natureza ir-te-ia à frente
Se ao mundo predissesses teu morrer
Volvendo com mandado intransigente
No eterno esquecimento o próprio ser

O céu se rosaria docemente
Por do teu corpo a roupa em fim descer
Florestas tingiria o teu sofrer
De negro e a noite o mar barca silente

Luto sem nome com estrelas mede
A estela ao teu olhar no arco celeste
E a escuridão de espesso muro impede

Que a luz da nova primavera preste
A estação vê nos astros que pararam
As cisternas que a morte te espelharam.

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VIBRA O PASSADO EM TUDO QUE PALPITA




Vibra o passado em tudo que palpita
Qual dança em coração de bailarino
Ao regressar já mudo o violino
E há nuvens sobre o bosque em que transita

À paz dos seres a morte em seu contínuo
Crescer em ramos de coral incita
A bem da noite negra e infinita
Sem um raro instrumento é seu destino:

O ceptro dos eleitos que não cansam
O corpo que este tempo já não quebra
É como a cruz que os astros quando avançam

Sobre o sul traçam por medida e regra
Os deuses têm-no em suas mãos cativo
Risível é quem eles mandam vivo.

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A MÃO QUE A SEU AMIGO HESITA EM DAR-SE




Perguntaste se eu amo o meu amigo?
Como rompendo um demorado açude
Na tua voz quis hausto que transmude
Todo o cristal dos ímpetos consigo

Nesse meu choro enevoado abrigo
Pôs-me a palavra o peito em alaúde
Que uma doce pergunta tua ajude
No sim furtivo que eu levei comigo

Mas a meu lábio lento em confessar-se
Um mestre inda melhor o cunharia
A mão que a seu amigo hesita em dar-se

Ele a tomou o que mais firme a guia
Para que ao coração secreto amando
Ao mundo todo em rimas o vá dando.

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quinta-feira, 21 de maio de 2015

Auto Retrato - João Ubaldo Ribeiro - BA

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AUTO RETRATO
João Ubaldo Ribeiro - BA
-rede globo-
*
Até a morte eu me atormentarei
Pelo que descobri e não encontrei,
Pelo que, pascaliano como sou,
Eu compreendi, e ainda assim maldigo.
Sou o idiota mais perfeito, aliás,
Por feito mais de carne que de gás.
É esse o fado que me leva adiante,
Num mundo para o qual não sou prestante.
Tudo o que tenho as mulheres me deram,
Consolação, razão para existir.
Benditas Berenices, Beneditas.
Também sejam benditos meus amigos,
Pois gosto deles, tenham longa vida,
E até eu mesmo que não a mereço,
Mas que a observo e sei qual é seu preço.

"De vez em quando, o João tinha surtos poéticos e escrevia poemas em inglês, língua que ele conhecia como raros nativos, mas tinha vergonha de mostrá-los e costumava destruí-los logo depois de escrevê-los. Certa vez, ainda no tempo do fax, ele me enviou um poema, que traduzi quase instantaneamente. Deste, felizmente, o João se afeiçoou e de vez em quando me pedia que o repetisse. E o repito aqui, porque parece um autorretrato desse que, além de um ser um dos mais complexos e deslumbrantes brasileiros de todas as eras, era também um amigo perfeito" - assim comenta Geraldo Carneiro em texto publicado n'O Globo, de 21 julho de 2014.  

 (Revista 7faces ... http://hotblog7faces.blogspot.com.br/ )

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